A FFLCH/USP disponibilizou no Youtube uma série de aulas, com conteúdos valiosos sobre a leitura e escrita acadêmica, voltadas especificamente para a área de Humanas. Neste post iremos trazer alguns elementos centrais presentes em uma das aulas que aborda a leitura acadêmica e que você pode assistir clicando aqui.
Para iniciar vamos, de antemão, estabelecer uma perspectiva: a leitura é um diálogo entre o leitor e a obra/o autor. Adotar essa perspectiva coloca o leitor na posição de quem busca compreender e argumentar, portanto, ler não é meramente assimilar conteúdos e isto implica uma postura crítica e reflexiva do leitor que, em seu percurso de diálogos com os textos, deve buscar a autonomia intelectual.
Vamos lá!
- É importante estar atento para desenvolver um pensar crítico e reflexivo, sendo autônomo intelectualmente. Ou seja, não assumir uma posição pela autoridade ou posição de quem fala/escreve, mas, sim, pensar e construir justificativas racionais.
- Não devemos aceitar passivamente tudo aquilo com o que nos defrontamos, mas, sim, explicitar a coerência interna, a lógica daquilo que nos é apresentado. Precisamos, portanto, compreender a coerência, a lógica do que chega até nós.
- Num campo do conhecimento em particular: é essencial ser capaz de avaliar de modo racional as variáveis teóricas da área e escolher, diante de diferentes situações, qual esquema teórico aplicar, qual argumento montar, como construir uma objeção. Enfim, é preciso pensar crítica e rigorosamente.
Alguns problemas na prática de leitura e como avançar:
1) Leitura fragmentada: o leitor destaca apenas aquilo que compreende, que lhe é familiar. Ignora aquilo que desconhece (termos, frases, parágrafos, referências, etc.). Assim, há a sensação de que a leitura avançou rápido, mas, ela foi limitada e ficou comprometida. O leitor decodificou todos os signos, mas, não necessariamente adentrou em todas as significações. É preciso repensar essa atitude para conseguir dialogar com o texto. Explorar o vocabulário é essencial para compreender o texto, avançar e, consequentemente, para o próprio processo pessoal de escrita. Sanar dúvidas de vocabulário, referências, sintaxe, buscar compreender aquilo que não conhece é essencial para prosseguir. Os elementos que o leitor desconhece são parte do texto, portanto, essenciais à sua compreensão. Ler impacta diretamente no escrever. E, nesse sentido, uma leitura criteriosa, rigorosa irá impactar em uma escrita também crítica e rigorosa.
2) Tomar posição valorativa: o leitor não concorda com algo do texto – ou com o todo – e acaba adotando uma atitude que pode gerar distorções. Seria algo como: “não concordo com você e, portanto, não quero escutar, não quero dialogar”. A leitura será limitada, pois o leitor, provavelmente, não conseguirá compreender a lógica argumentativa do autor (não se trata de concordar, mas, sim de compreender e, inclusive, construir suas próprias argumentações a partir disso). É importante compreender a posição do autor.
3) Ler sem considerar o todo e desconsiderar a estrutura do texto: em muitas situações o estudante faz a leitura de trechos/capítulos solicitados em aula desconsiderando a estrutura da obra na qual o material está inserido. É importante ter consciência da obra como um todo. Se o estudante ler um capítulo, é essencial reconhecer em qual obra está inserido, qual o objetivo dessa obra, quem é esse autor, observar o sumário, a orelha do livro. Enfim, quando for ler um trecho isolado, não apenas ler o texto, mas, também, ler a própria estrutura na qual ele está inserido.
Fora isso, é importante identificar a estrutura lógico-conceitual do texto: uma sugestão é realizar a numeração dos parágrafos quando estamos iniciando nossas leituras acadêmicas. E, após numerá-los, é interessante reunir os parágrafos em blocos que estabelecem relação mais direta e para os quais você poderia atribuir uma síntese. Seria algo como pensar assim: “se eu precisar definir em uma palavra, em uma linha do que trata esse bloco de parágrafos, como eu faria?” Com isso, o leitor consegue fazer um movimento de explicitar o pensamento do autor e sua estrutura lógica. Isso é um exercício importante para que o leitor consiga aprender a dialogar com o texto. O leitor que sintetiza/agrupa nessa perspectiva é um leitor que consegue compreender o raciocínio do autor, algo essencial ao diálogo e a produção do conhecimento.