Cada coisa em seu lugar, n. 2

24/09/2018

Numa publicação aqui neste blog no ano passado explicamos a organização dos livros nas estantes e falamos da Classificação Decimal de Dewey (CDD), que usamos para classificar os livros, e que determina a ordem e localização dos livros nas estantes.

No entanto, se você vem com frequência à biblioteca já deve ter notado outros arranjos um pouco diferentes desse usado para os livros. Não só o uso de letras antes da classificação, como localizações bem mais diferentes: F2475, TC1677, E10711, etc.

As letras ‘r’, ‘t’, e  ‘g‘ são usadas antes das classificações atribuídas a obras de referência, teses e dissertações e livros de dimensões físicas muito grandes. Servem para ajudar a identificar esse material, separando-os da coleção geral de livros, na qual usamos o mesmo sistema de classificação.

Já a organização usada para partituras, DVD, folhetos, discos de vinil e outros materiais é um sistema de ordenação fixa, ou seja, a localização na estante não é determinada pela classificação na tabela de assuntos da CDD e sim pela ordem de tombamento ou de registro em nosso catálogo. Esse sistema é indicado preferencialmente para acervos de acesso restrito, mediado por um funcionário, já que os materiais ficam dispostos nas estantes frequentemente sem nenhuma relação temática ou de autoria com os itens adjacentes.

Tem como vantagens principais poder usar todo o espaço disponível e não ter que fazer remanejamentos periódicos. Enfim, ganha-se espaço. Nesse sistema pode-se indicar por meio de números o andar, sala, estante, prateleira e a posição sequencial do item. Por exemplo: II-016,5,015, poderia significar segundo andar, estante 16, prateleira 5, e é o 15º nessa prateleira.

Toda a prateleira é usada

No nosso caso, apenas indicamos o tipo de material pelas letras iniciais, DVD, CD, F (folheto), TC (trabalho de conclusão de curso), E (partituras encadernadas), M (memoriais), D (disco de vinil) LA (livro de artista) e acrescentamos uma ordem numérica sequencial. Para as partituras que não são encadernadas, usamos apenas uma numeração sequencial e para cópias de DVD e CD, adicionamos um ‘X’ (XDVD, XCD).

Exemplos:

Pt566
F2475
TC1677

Ordem sequencial na prateleira


Cada coisa em seu lugar? A organização dos livros nas estantes

16/10/2017

Precisa localizar algum livro nas estantes de uma biblioteca? Anotou o número de classificação (também conhecido como número de chamada ou de localização) antes de dirigir-se até as estantes e começar o processo de busca do livro em si?

Tarefa difícil para alguns, simples para outros – certamente aqueles que têm a prática de frequentar bibliotecas –, localizar um livro nas bibliotecas remete a um trabalho prévio de organização do acervo e compreender minimamente esta lógica de organização é adentrar em suas tramas com mais propriedade.

A Classificação Decimal de Dewey (CDD) é uma das classificações mais utilizadas ao redor do mundo e nós a utilizamos na Biblioteca da ECA. Sabe aquela sequência numérica que você vê na etiqueta colocada na lateral dos livros do nosso acervo? Ela é elaborada a partir da CDD,  uma classificação decimal em que cada número corresponde a um assunto. O que isso representa? A possibilidade de agrupar nas estantes os livros conforme as temáticas. Assim, livros de literatura brasileira, por exemplo, estarão reunidos fisicamente, aqueles de fotografia também, os sobre cinema brasileiro da mesma forma e etc.

Há 10 grandes classes de assuntos representados por números:

000       Ciência da computação, informação e obras gerais

100         Filosofia e psicologia

200         Religião

300         Ciências sociais

400         Linguagem e línguas

500         Ciências naturais

600         Tecnologia (ciências aplicadas)

700         Artes

800         Literatura e retórica

900         Geografia e história

Esses números gerais vão sendo desdobrados e, com isso, os assuntos vão sendo cada vez mais especificados. Se 700 é Artes, 791.43 é Cinema e 780.981 representa música brasileira, por exemplo. Quanto maior o número de classificação, maior a especificidade no momento de representar o assunto do livro na classificação.

Após essa sequência numérica é inserido um código formado pela primeira letra do sobrenome do autor (às vezes pode ser do título), número e primeira letra do título da obra.

foto: Leo Hidalgo (Flickr)

A Biblioteca da ECA classificou o livro Da relação com o saber, de Bernard Charlot assim:

370.1 C479d  : 370.1 corresponde ao assunto “Filosofia da educação; Teoria da educação e psicologia educacional” , C749 representa o sobrenome e o “d” é a primeira letra do título.

Os números de localização são como RGs das obras da biblioteca, cada obra tem um número de classificação único.

Com essas informações prévias deu para perceber que ir até as estantes à procura de um livro pode ser muito positivo e materiais interessantes podem ser localizados. Lembremos que a classificação é feita com base na CDD, este sistema que busca capturar e classificar  mundo, coisas, comportamentos. Essa categorização pode sofrer alterações ao longo dos anos, seja com a inclusão de novos assuntos, seja com a alteração de sua representação. Números podem deixar de existir e assuntos podem ser deslocados para outras classes. Se em dada época um comportamento é tido como doença, provável que esteja sob classificação que o represente dessa forma, mas, se isso é alterado conforme as transformações histórico-sociais, provável que a CDD irá acompanhar.

Classificações são sistemas feitos por nós seres humanos e é um ser humano que irá pegar dada obra em mãos e atribuir para ela um número de classificação. Logo, a interpretação, a relação do sujeito com aquela obra é determinante à atribuição da classificação. Um mesmo livro pode ser classificado em números diferentes no acervo de bibliotecas distintas. Isso não significa que alguma esteja errada. É uma questão de interpretação e também de enfoque.

No acervo da ECA o livro “Educomunicação o conceito, o profissional, a aplicação : contribuições para a reforma do ensino médio” é classificado em 301.16 Comunicação, conforme a 18 ed. da CDD,  isso significa que ali poderão ser encontrados outros livros sobre o assunto, mas não fiquemos confinados ao número. Pode haver outros livros sobre Educomunicação bem como relacionados a suas temáticas classificados em outras numerações. Por esse motivo, é importante fazer buscas por assunto nos catálogos, no nosso caso o Dédalus ou o Portal de Busca Integrada, para localizar todos os livros que tratam de um determinado assunto. A procura feita diretamente nas estantes não substitui a consulta aos catálogos.

Portanto, quando a ideia é explorar o acervo a partir dos números é importante lembrar que eles servem para abrir caminhos e possibilidades mas não podem ser encarados por nós como uma prisão que confine nossa prática de pesquisa!

 

 

 

 


Colocando os discos em ordem

27/10/2011

por Marina Macambyra

Muita gente nos pergunta como a Biblioteca da ECA organiza seu acervo de discos, porque gostaria de arrumar sua coleção particular de forma correta.

Na verdade, são duas perguntas e duas respostas. A forma de organização de uma biblioteca pode não ser a mais adequada para uma coleção particular.
Nossa Biblioteca tem mais de 9.000 discos, e atende a um público grande e heterogêneo, que precisa localizar discos por compositor, intérprete, arranjador, auto de texto, título do disco, título das músicas, meio de expressão e assunto, pelo menos. Para isso é necessário uma base de dados com estrutura bastante complexa. A ordem dos discos nas estantes é o que menos importa, porque não é isso que vai responder às questões dos usuários.
Para uma coleção menor e que atenda apenas ao seu proprietário, a melhor solução é organizar fisicamente os discos por alguma lógica que permita encontrar os discos sem precisar de um catálogo ou base de dados, coisa sempre difícil de ser preparada.


Se você tem uma coleção grande e necessidades semelhantes às de uma biblioteca, não tem jeito. Você vai precisar contratar um profissional para fazer o trabalho, e esse profissional se chama BIBLIOTECÁRIO. Pois é, bibliotecários também sabem organizar discos, filmes, fotografias, além de livros. Contrate um ou uma, explique direitinho o que você precisa e peça uma forma de organização que você consiga manter depois. Sim, porque sua coleção vai continuar crescendo e esse profissional, em princípio, não vai ficar morando com você.
Mas se você tiver entre 500 e 1000 discos, digamos, e não for muito obsessivo em relação à ordem, posso dar algumas sugestões. Mas antes, dois  alertas:

1.  Não existe uma única forma correta para organizar discos. Vai depender da sua necessidade e das suas possibilidades.
2.  Organização perfeita também não existe. Algum nível de improvisação sempre será necessário.

Classificando a coleção

Separe seus discos em categorias gerais. Por exemplo: Música Popular, Música Erudita, Trilha sonora de filmes e programas de TV. Provavelmente será necessário subdividir essas primeiras categorias:
Música popular
      Música popular brasileira
       Outros países
        ou
Música popular
        Vocal
        Instrumental

É possível ir fazendo outras subdivisões hierárquicas conforme a necessidade e subdividir a música popular brasileira em ritmos e gêneros, por exemplo, mas tenha cuidado. Quanto mais subdivisões a gente inventa, mas difícil se torna a manutenção do sistema. Tente manter no máximo três níveis, mesmo que seja necessário deixar no mesmo nível categorias que deveriam, pela lógica, ficar uma dentro da outra.
Os pequenos problemas de classificação logo vão aparecer. Alguns discos se encaixam em mais de uma categoria, outros não se encaixam em nenhuma. As bibliotecas e as lojas de discos também têm esse problema da realidade que sempre teima em fugir aos esquemas. O disco da Sarah Vaugham cantando música brasileira fica onde? A opção pelo intérprete é a mais usual, mas não é obrigatória. Decida o critério e procure manter o mesmo para outras situações semelhantes. E as coletâneas que têm um pouco de tudo? Invente a categoria Coletâneas ou force a barra e classifique na categoria que predomina no disco (se houver uma), ou  onde se encaixam suas músicas prediletas, porque não existe uma fórmula certa para resolver o problema.
Inventar suas próprias categorias pode ser divertido, mas considere a opção de usar um sistema já testado. Copiar ou adaptar a organização de uma loja de discos que tenha uma solução interessante ou uma classificação de biblioteca pode ser uma boa ideia.
Vejam, por exemplo, o esquema usado pela Discothèque de France, e minha própria versão, traduzida e adaptada:
0 Música popular do mundo
000 Antologias
010 África Negra
020 Magreb, Oriente Médio, Ásia Central
030 Extremo Oriente
040 América do Sul (menos Brasil)
050 Antilhas e América Central
052 Reggae, raggamuffin, dub, ska
060 América do Norte
070 Europa meridional e oriental
080 Europa setentrional, central, ocidental
090 Música brasileira
091 Samba
092 Caipira e música de raiz
093 Bossa Nova
095 Canção brasileira
Essas classes podem ser subdivididas por país.
1 Jazz
110 Blues
115 Gospel, spirituals
180 Soul, rhythm and blues, funk
2 Rock
3 Música erudita
Antologias
300 Antologia geral
301 Canto gregoriano
302 Idade Média, Ars antiqua, Ars nova
303 Renascimento
304 Barroco
305 Época clássica
306 Romantismo e pós-romantismo
307 Final do Século 19
Recitais
310 Pianos
320 Cravos
330 Órgão
340 Cordas
350 Harpas e liras
360 Violões e alaúdes
370 Madeiras e sopros
380 Metais
390 Percussão
398 Orquestra e regentes
399 Vozes e coros
Dividir por instrumentos específicos, se necessário.

Gêneros musicais
300.10 Música de câmara
.11 Música para 1 instrumento
.19 Concerto
.20 Música sinfônica
.24 Sinfonia
.28 Música e suíte para balé
.30 Música vocal profana
.35 Ópera (integral e excertos)
.37 Opereta
.40 Música vocal sacra

4 Música do século 20
.10 Música de câmara
.20 Música sinfônica
.30 Música vocal profana
.40 Música vocal sacra
.50 Open musique

5 Diversos
511 Comédia e filmes musicais
520 Trilhas de filme e televisão
530 Hinos diversos
550 Expressão corporal, ginástica, relaxamento
551 Danças folclóricas
560 Música pitoresca, fanfarra, música de circo
570 Música de ambientação
572 Música de dança popular, tango, valsa
580 Música para cerimônias : casamentos, funerais
590 Sons diversos, ruídos, animais

Muito complicado? Veja uma proposta mais simples:

Minha sugestão

Música popular
Divisão geográfica: países, continentes, regiões, estados (o que for mais conveniente). Se for interessante, usar a tabela da Discothèque de France. Esse tipo de divisão só é útil para quem tem um acervo grande e eclético, com música de muitos países.
Subdividir por:
Gêneros, ritmos e movimentos específicos
Trilhas de filmes, peças teatrais, programas de TV
Música para dançar
Música para crianças
Cantores solistas, cantores compositores
Antologias de um único compositor (songbooks)
Música instrumental

Quem não usar a divisão geográfica, pode classificar somente de acordo com as categorias acima. Depende do gosto.

Música erudita: usar a tabela da Discothèque de France.

Talvez seja necessário criar algum tipo de código para cada uma dessas categorias, para poder identificar cada disco com uma etiqueta. Facilita a guarda, evita confusões. O código pode ser numérico, alfabético ou alfa-numérico, mas precisa ser simples.
Muita gente gosta de trabalhar com cores. Dá para identificar cada categoria com uma cor e botar uma etiqueta da cor correspondente? Dá, mas cuidado. Cores são boas para decorar e, no máximo, para sinalizar, não para organizar. Você corre o risco de esgotar as cores nitidamente diferentes, ou de começar a confundir laranja com vermelho. Números costumam ser mais eficientes para esse tipo de coisa.

O esquema da Discothèque parece baseado na Classificação Decimal de Dewey (CDD), bastante utilizada em bibliotecas para classificar acervos de livros. Estou preparando uma versão resumida da parte de música dessa tabela, usando apenas as classes que considerei mais úteis para usar num acervo de discos. Se ficar interessante, publico num próximo post.

A ordem alfabética

Diante dos problemas que surgem ao classificar a coleção, a tentação de colocar tudo em ordem alfabética é grande. Parece uma forma de simplificar a tarefa, boto tudo em ordem alfabética e pronto. Pronto nada. Pode ser o começo dos problemas.
Ordem alfabética de quê? De título? Tente encontrar o título de todos os seus discos. De nome de artista? Qual, o intérprete ou o compositor? É sempre fácil identificar o responsável principal pelo disco, o nome pelo qual você vai ordenar? Outra questão: ordenar por nome, sobrenome ou pelo nome mais conhecido? São várias decisões que vão levá-lo, quase que fatalmente, a não lembrar onde colocou a Cyda Moreira cantando o Chico Buarque.

Se você pensa em usar a ordem alfabética, lembre-se de que quanto maior o universo, maiores serão os problemas de alfabetação. Por esse motivo, essa deve ser sua última forma de ordenação, a ser usada quando você tiver esgotado todas as possibilidades de divisões por categorias. E pense seriamente em colocar uma pequena etiqueta no disco com a letra escolhida para ordenação, para ajudá-lo a lembrar de que colocou o Tom Jobim no “T” de Tom, não do “J” de Jobim ou no “A” de Antônio.

Minha experiência pessoal é engraçada. Organizei minha pequena coleção particular de uns 300 discos, se tanto, da forma mais simples possível. Dividi os discos em Música Erudita, Música Popular Brasileira e Música Popular Internacional. Dentro de cada categoria, coloquei os discos numa única ordem alfabética de intérprete individual, banda ou conjunto, compositor e título. O intérprete foi o elemento escolhido quando se tratava de discos de um mesmo cantor, instrumentista ou grupo. Para as coletâneas de obras de um mesmo compositor – Songbook Noel Rosa, por exemplo – o disco foi ordenado pelo nome do compositor. O título foi escolhido quando era bastante evidente e me parecia o melhor elemento para definir o conteúdo gravado, por exemplo: Modinhas de amor (coletânea de modinhas antigas, de vários autores e intérpretes); Baile perfumado (trilha de filme).

Muito fácil, mas quando comprei diversos discos de tango, acabei juntando todos no “T” de tango, porque seria totalmente incapaz de lembrar os nomes de todos os artistas que não fossem Gardel e Piazzolla. O mesmo aconteceu com os discos de flamenco, o que deixou evidente a necessidade de criar mais subcategorias no meu acervo.

Além disso, sempre tenho dificuldades em encontrar aquela cantora de Cabo Verde que não é a Cesária Évora. Se eu tivesse sido menos bibliotecária e seguido minha tendência natural a agrupar as coisas por afinidades difusas e ecléticas, teria colocado a Mayra Andrade junto da Cesária, um nome que não esqueço. E a Maria Rita ao lado da mãe dela, e todos os músicos baianos enfileirados na mesma prateleira, Chico César perto de Zeca Baleiro. Uma ordem menos técnica, sem dúvida, mas talvez mais eficiente para essa situação específica. Por que não?

Armazenagem e conservação

A poeira, as altas temperaturas e a umidade relativa do ar são os maiores inimigos dos discos, tanto em vinil quanto em CD.
Qual o mobiliário ideal para guardar discos? Estantes ou armários de aço fechados seriam a solução mais adequada, mas na casa da gente pode ser difícil. São caros e comprometem a decoração. Por esse motivo a maioria das pessoas acaba optando por mobiliário de madeira. O problema é que a madeira é uma substância higroscópica, que absorve a umidade do ar.
Analise o ambiente de sua casa. É muito úmido? Seus armários que ficam fechados por muito tempo cheiram a bolor? Opte por estantes de madeira abertas e cuide bem da limpeza. Você não percebe sinais visíveis de umidade alta, mas a poeira que vem da rua é um horror? Talvez seja melhor guardar os discos em armários fechados, com o cuidado de abrir sempre as portas, para ventilar a coleção. Escolha mobiliário de madeira dura, de boa qualidade.


Discos em vinil não podem ser empilhados, precisam ficar na posição vertical. Nunca deixe seus discos tombados, vertical é vertical mesmo, sempre. Se precisar, use aparadores em forma de “L” para segurar a coleção, desses que as bibliotecas usam.


Mantenha seus discos sempre dentro das capas ou estojos e cuidado para não deixar suas impressões digitais na superfície de leitura. Para saber mais sobre conservação e limpeza de discos, veja indicações de bibliografia e textos esse outro post:

A volta do vinil na Biblioteca da ECA

Outras abordagens

Imagino que muita gente tenha outra concepção de organização de discos. Pessoas com mais conhecimento de música do que eu com certeza terão considerações a fazer sobre minhas sugestões de classificação. Se for o seu caso, faça um comentário, mande suas sugestões.
E você já teve uma experiência boa ou mesmo totalmente catastrófica organizando discos? Vale a pena contar tudo, pode ser útil para outras pessoas.