Entrevistas, como fazer referência?

04/03/2024

Entrevistas são um tipo de publicação muito comum em jornais e revistas, mas também aparecem muito frequentemente em periódicos acadêmicos e até em livros, editadas em coletâneas. E existem também entrevistas realizadas por autores de monografias, como forma de subsidiar suas pesquisas, reforçar argumentos etc.

Para ambos os casos, é recorrente a dúvida de como citar e referenciar esse tipo de documento.

Para o primeiro caso, entrevistas publicadas como parte de jornais, revistas e livros, é mais fácil, basta seguir o que recomenda a ABNT NBR 6023 para material publicado, ou seja, usar os elementos essenciais de identificação:

autor, título do artigo ou da matéria, subtítulo (se houver), título do periódico, subtítulo (se houver), local de publicação, numeração do ano e/ou volume, número e/ou edição, tomo (se houver), páginas inicial e final, e data ou período de publicação.

Mas quem é o autor, o entrevistado ou o entrevistador? Esta mesma norma diz que “Para entrevistas, o primeiro elemento deve ser o entrevistado”, mas traz dois exemplos discrepantes entre si:

No primeiro exemplo, os entrevistadores vêm como primeiro elemento:

MENDONÇA, Lenny; SUTTON, Robert. Como obter sucesso na era do código aberto. Entrevistado: Mitchekk Baker. HSM Management, São Paulo, ano 12, v. 5, n. 70, p. 102-106, set./out. 2008.

Algumas páginas adentro, faz exatamente o contrário, ou seja, entrevistado como primeiro elemento:

HAMEL, Gary. Eficiência não basta: as empresas precisam inovar na gestão. [Entrevista cedida a] Chris Stanley. HSM Management, São Paulo, n. 79, mar./abr. 2010. Disponível em: http://www.revistahsm.com. br/coluna/gary-hamel-e-gestao-na-era-da-criatividade/. Acesso em: 23 mar. 2017.

Num outro exemplo, na página 27, o título do podcast onde apareceu a entrevista foi considerado o elemento principal:

ANTICAST 66: as histórias e teorias das cores. Entrevistadores: Ivan Mizanzuk, Rafael Ancara e Marcos Beccari. Entrevistada: Luciana Martha Silveira. [S. l.]: Brainstorm9, 31 jan. 2013. Podcast. Disponível em: https://soundcloud.com/anticastdesign/anticast-66-as-hist-rias-e/s-OImz9. Acesso em: 22 ago. 2014.

Nossa recomendação:
siga o segundo exemplo e inicie a referência pelo nome do entrevistado, pois é isso que a norma diz textualmente.

Já aquelas entrevistas não publicadas, que o próprio autor de um trabalho fez, entram na categoria de informação obtida por canais informais, não vão para a lista de referências, devem ser identificadas em nota de rodapé. Esse tipo de informação precisa ser comprovada por documentos (gravação em áudio ou vídeo das entrevistas, por exemplo) e recomenda-se que sejam adicionados como apêndice ao final do trabalho. Veja o exemplo abaixo:

No texto:
O esforço empreendido pela categoria profissional bibliotecária em torno da questão se pronuncia há tempos, pois conforme José Fernando Modesto da Silva1, no começo da década de 1990, tiveram início diversas ações do CRB8 para explicitar a importância das bibliotecas escolares (informação verbal). 

Em nota de rodapé:
1 José Fernando Modesto da Silva, professor universitário que já ocupou a presidência do CRB8 e do CFB, nos concedeu uma entrevista em 12 de dezembro de 2013. As questões podem ser consultadas no Apêndice A.

Os exemplos de referências usados nesse post são da ABNT NBR 6023. Esse último exemplo vem da Manual de normalização da Biblioteca da ECA.


Citar ou não citar

07/12/2021

Muitos estudantes tem dúvidas quanto ao uso de certos tipos de documentos em seus trabalhos. As perguntas mais frequentes são mais ou menos essas:

  • Posso citar textos de blog, podcasts, informações verbais, posts de redes sociais, trabalhos não publicados?
  • Como faço a referência de textos de blog, podcasts, informações verbais, posts de redes sociais, trabalhos não publicados?

A primeira confusão que precisa ser desfeita é a seguinte: citar e fazer referências são coisas diferentes. Quase todos os documentos podem ser referenciados, mesmo que a norma da ABNT não traga orientações precisas. Mas não é qualquer documento que pode ou deve ser citado em trabalhos acadêmicos.

Clarice Lispector. Imagem extraída do texto “Não fui eu que escrevi isso” – Sobre as falsas autorias que circulam na internet!, publicado no blog O bem viver

Não é recomendável desenvolver um discurso ou justificar uma afirmação baseando-se em informações retiradas de fontes informais, pouco confiáveis, não publicadas ou publicadas pelo próprio autor em meios que não passam pelo crivo de nenhum outro pesquisador, editor ou avaliador. Entretanto, há situações em que é perfeitamente aceitável citar blogs ou tuítes. Por exemplo: para analisar declarações e opiniões de um indivíduo ou grupo, em trabalhos que estudem a comunicação nas mídias sociais, para informações pontuais e objetivas etc. A qualificação da fonte e sua competência em discorrer sobre o tema do qual está tratando é o dado do mais importante a ser levado em conta.

Tudo depende, em resumo, do tipo de trabalho que está sendo feito, do tipo de informação que será citada, da forma de utilização dessas informações no contexto do trabalho e da qualidade da fonte.

Outro fator a ser considerado é o acesso ao conteúdo citado. Deve ser possível, para o leitor ou avaliadores do trabalho, localizar e consultar o documento citado, mesmo que seja necessário pagar por ele ou deslocar-se até um arquivo ou biblioteca.

De forma geral, fontes informais podem ser citadas quando realmente necessário, mas não devem ser inseridas na lista de referências. Nesses casos, basta uma nota de rodapé que indique, de forma objetiva mas com todas as informações necessárias, a fonte da citação. A nota não precisa conter uma referência.

Alguns exemplos de situações que geram dúvidas:

Documentos não publicados

Um artigo ainda não publicado, mas que já foi avaliado e aceito para publicação, pode ser citado e inserido em listas de referências. A norma da ABNT sugere que a referência contenha a informação “no prelo”.

Exemplo tirado da NBR-6023 , p. 50

Manuscritos mantidos em arquivos, bibliotecas, museus e outros locais nos quais, em princípio, estão disponíveis para consulta, podem ser citados e referenciados. Recomendamos que seja informado o nome da instituição de guarda. Para citar documentos que estejam em mãos de particulares, o autor deve se certificar de que o acesso aos mesmos será possível.

Documentos institucionais de acesso restrito, como os relatórios de pesquisa enviados a órgãos de fomento, não devem ser incluídos na lista de referências. Se for necessário citá-los, fazer apenas nota de rodapé.

Documentos obtidos em sites “alternativos”

É prática bastante difundida no meio acadêmico obter cópias em suporte eletrônico de livros e artigos de periódicos sem pagar por elas. Sem entrar aqui em discussões de caráter legal ou ético, o fato é que esses trabalhos podem ser citados normalmente, independentemente da forma como foram obtidos. Mas é importante ter certeza de que o arquivo obtido está completo e íntegro, não tendo sofrido qualquer alteração em seu conteúdo.

Fotos

É possível citar e referenciar uma fotografia, mas, em geral, é melhor inserir a imagem no trabalho, com legendas e indicação de fonte. É necessário ter autorização dos detentores dos direitos autorais e dos direitos de imagem, caso a foto mostre pessoas. Para submeter um artigo a uma revista, o autor deve providenciar essas autorizações (as revistas não vão fazer isso). Para mais informações sobre citação e referências de fotografias, consultem o Manual de normalização da Biblioteca da ECA.

Informação verbal

Trata-se do caso mais grave de informação que não pode ser verificada posteriormente. Pode ser citada, se for realmente necessário usá-la num trabalho acadêmico, mas não deve constar da lista de referências. Fazer uma nota de rodapé com um texto explicativo. Por exemplo:

Essa informação foi apresentada durante palestra proferida no Auditório Camargo Guarnieri, da Universidade de São Paulo, no dia 5 de maio de 2019.

IMPORTANTE

A cultura da instituição para a qual se está escrevendo o trabalho, bem como os hábitos e costumes da área, precisam ser levados em consideração. No caso de TCCs, dissertações e teses, é importante levar as dúvidas relacionadas ao dilema “citar ou não citar” ao orientador ou orientadora. Os bibliotecários também podem ajudar.

Para as questões formais de como fazer referências e citações, as fontes a serem consultadas devem ser, pela ordem:

  1. As próprias normas da ABNT (ou outro estilo que a instituição adote), em sua versão mais atual. Essas normas não são de acesso aberto, portanto é preciso cuidado ao usar textos encontrados na internet, que podem estar desatualizados ou incompletos. Na USP, a fonte correta é o GEDweb, um serviço disponível na página da Agência USP de Gestão da Informação Acadêmica – AGUIA. É necessário conexão à rede VPN da USP. Na dúvida, procure orientação na sua biblioteca.
  2. Manuais oficiais da sua instituição. Na USP, temos as Diretrizes para apresentação de dissertações e teses da USP, disponíveis no Portal de livros abertos, nos estilos ABNT, APA, Vancouver e ISO. Não usem manuais de outras instituições, porque as orientações podem ser diferentes das adotadas na USP. Algumas unidades têm seus próprios manuais, que não devem, em princípio, serem usados por alunos e pesquisadores de outras unidades. Na dúvida, procure orientação na sua biblioteca.
  3. Orientações e manuais preparados pelas bibliotecas, que complementam as orientações oficiais das universidades. Procure usar apenas os manuais da sua biblioteca, ou documentos indicados pelos seus bibliotecários.


Citar e referenciar

17/05/2021

Citar significa fazer referência a alguém, a algum texto, documento seu ou de outras pessoas, ou seja, fontes externas que ajudam a reforçar um argumento. Portanto, as citações ao longo do texto e a lista de referência no final, são duas coisas ligadas por uma dependência recíproca, isso significa que tudo que foi citado ao longo do texto deve ir para sua lista de referências, e o contrário também é verdadeiro, se está na lista de referência é porque foi citado no texto.

Foto: liveandrock (Flickr)

Algumas questões que nos chegam sobre citação e referência são dúvidas que existem porque pode não estar muito claro para as pessoas o que são ou para que servem as citações e as referências.

Fiz muitas pesquisas e citei algumas referencias que constavam nesses periódicos, o problema é que não anotei todos. Devo excluir as citações que fiz?

Sim. Ou correr atrás dos documentos novamente. Como dissemos, tudo que foi citado precisa estar nas referências, caso contrário corre-se o risco de praticar plágio, ainda que involuntariamente.

Afirmações empíricas precisam ser referenciadas? Por exemplo: quem está doente não goza de forma ampla do direito à saúde.

Quando você diz “quem está doente não goza de forma ampla do direito à saúde”, é uma afirmação baseada na sua experiência empírica? Então apresente os dados. Ou você se baseia numa informação retirada de outra fonte para dizer isso? Então apresente a fonte. Citação é qualquer informação extraída de outra fonte, seja apresentada por meio de transcrição textual ou uma paráfrase. Por isso, qualquer informação que veio de outra fonte precisa ser citada.

o acesso é com login e senha (acesso restrito) não há necessidade de completar a referência usando as informações —— Disponível em: <>. Acesso em:

A dúvida aqui é sobre colocar ou não a URL de um livro eletrônico de acesso restrito, pois o leitor não terá acesso de qualquer forma. A função da referência não é dar acesso ao documento, é identificá-lo, para com isso facilitar o acesso, assim sendo, apontar o endereço eletrônico poupa o trabalho de seu leitor caso ele queira acessar esse documento. Seguindo a mesma lógica da pergunta, alguém poderia dizer: para que colocar a referência completa de um livro raro consultado numa biblioteca estrangeira, pois meus leitores não terão acesso a ele? Não faz sentido, não é?  

Pôr o endereço eletrônico é ainda mais importante nesse momento em que mais e mais bases de dados de e-books surgem. Além disso a norma NBR 6023 diz textualmente “Para documentos online, além dos elementos essenciais e complementares, deve-se registrar o endereço eletrônico, precedido da expressão Disponível em:, e a data de acesso, precedida da expressão Acesso em:.”

A lista de referências vai identificar cada uma de suas citações e facilitar aos seus leitores os caminhos para chegar até elas seja numa biblioteca, num catálogo de livraria, numa base de dados.


Gastando o latim

16/11/2020

As normas de referência, e principalmente a de citações, da Associação Brasileira de Normas Técnicas recomendam o uso de algumas expressões e palavras em latim, para evitar que a leitura das citações se torne repetitiva, ou quando não se consegue precisar alguma informação, no caso das referências.

O latim dá voz ao que chegou até nós da cultura clássica, cultura da qual o ocidente é devedor. Expressões como status quo, causa mortis, habeas corpus e tantas outras fazem parte do vocabulário de muita gente; em áreas como direito e na nomenclatura científica, a presença do latim é ainda mais evidente.

É certo que às vezes é usado com algum pedantismo ou como marca de distinção social, o que não é de hoje:

Para as elites, o mundo clássico, antes símbolo máximo do status e da pertença de classe, foi relegado nem tanto ao esquecimento, como à denegação: cheirava a mofo e a uma visão de mundo a ser superada.

O resultado é que o latim deixou de ser obrigatório em nossas escolas de ensino fundamental e médio ainda na década de 1950. Mas como está na base de algumas das línguas mais faladas hoje no mundo e dá voz à Antiguidade Clássica, permanece.

Nas citações em documentos (ABNT NBR 10520) as expressões e palavras são recomendadas para evitar repetição nas notas de referência no rodapé, ou seja, a primeira citação em nota de rodapé deve ter sua referência completa, só então você vai ter que gastar o latim. Para tornar as coisas um pouco mais difíceis, é comum que se usem tais expressões abreviadas.

Idem – mesmo autor – Id.
SOUZA, 1990, p. 51.
Id., 2018, p. 17.
Ibidem – na mesma obra – Ibid.
DURKHEIM, 1925, p. 176
Ibid., p. 190.
Opus citatum, opere citato – obra citada – op. cit.
ADORNO, 1996, p. 38.
GARLAND, 1990, p. 42-43.
ADORNO, op. cit., p. 40
Passim – aqui e ali, em diversas passagens – passim
RIBEIRO, 1997, passim
Loco citato – no lugar citado – loc. cit.
TOMASELLI; PORTER, 1992, p.33-46
TOMASELLI; PORTER, loc. cit.
Confira, confronte – Cf.
Cf. CALDEIRA, 1992
Bom, essa daqui não é latim no sentido que estamos usando aqui, mas de onde você acha que vieram as duas palavras aí?
Sequentia – seguinte ou que segue – et. seq.
FOUCAULT, 1994, p. 17 et seq.

Idem, ibidem, opus citatum “só podem ser usadas na mesma página ou folha da citação a que se referem.”

Apud – citado por, conforme, segundo
EVANS, 1987 apud SAGE, 1992, p. 2-3

Agora um pouco de controvérsia. Diferentemente das outras expressões, essa também pode ser usada no texto, não apenas no rodapé. Usa-se essa expressão para indicar que se está citando uma citação direta ou indireta, ou seja, você não teve acesso ao documento original, e aqui entra a parte da controvérsia. No exemplo acima você estaria assumindo que a leitura ou interpretação que Sage fez de Evans, é correta, sem vieses ou ruídos. Lembram daquela brincadeira infantil do telefone sem fio?

A ABNT não diz para evitar o uso dessa expressão, no entanto a pesquisa científica é um trabalho de investigação, e se é possível encontrar o original numa biblioteca ou numa das várias bases de dados, não tem desculpa para não ir atrás do original. Veja o que diz esse editorial da Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental.

No caso das referências (ABNT NBR 6023), normalmente as expressões latinas aparecem quando não se pode oferecer a informação completa, seja para resumir uma lista de autores extensa, seja porque os dados não foram fornecidos

et alii – e outros – et. al.
URANI, A. et al.
Para mais de três autores. Recomenda-se indicar todos, mas não sendo possível usa-se como no exemplo acima.
sine nomine – sem nome (da editora) – [S. n.]
FRANCO, I. Discursos: de outubro de 1992 a agosto de 1993. Brasília, DF: [s. n.], 1993. 107 p.
sine loco – sem local (de publicação) – [s. l.]
KRIEGER, Gustavo; NOVAES, Luís Antonio; FARIA, Tales. Todos os sócios do presidente. 3. ed. [S. l.]: Scritta, 1992. 195 p.
circa – por volta de – ca.
ca. 1950
ano de publicação aproximado

Seja em áreas como direito, ou na nomenclatura científica, o latim se faz presente bem mais do que como nota de rodapé

As citações acima e os exemplos usados vieram das normas da ABNT NBR 6023 e NBR 10520 e do livro O latim hoje, organizado por Patrícia Prata e Fábio Fortes


Normalização sem drama

13/08/2018

O trabalho no serviço de referência da Biblioteca da ECA, frequentemente, coloca os bibliotecários diante de estudantes angustiados com dúvidas sobre como fazer citações e referências seguindo as normas da ABNT.  As angústias mostram-se maiores quando as dúvidas são sobre tipos documentais que não estão contemplados – ou suficientemente contemplados – pelas normas NBR10520 e NBR6023.

As tecnologias de informação e comunicação e os novos fluxos informacionais fazem com que, cada vez mais, sejam utilizados como referência para os trabalhos acadêmicos recursos com formas de apresentação variada. Gravações de entrevistas disponíveis em canais como o Youtube, textos disponibilizados em mídias sociais, filmes ofertados em serviços de streaming, textos disponíveis em sites, gravações sonoras disponíveis online, etc., compõem o referencial para muitos trabalhos acadêmicos, sobretudo, considerando o público das áreas de comunicações e artes.

Diante das diversas dúvidas e dessa necessidade latente elaboramos o Manual de normalização da Biblioteca da ECA: complementar às Diretrizes do SIBiUSP, desenvolvido justamente com a função de suprir essa lacuna. Portanto, o foco do manual é a elaboração de citações e referências de recursos que não estão abordados a contento pelas normas da ABNT.

O material disponível para download em nosso site foi elaborado com base nas normas NBR10520 e NBR6023, respeitando uma função essencial da normalização de citações e referências: fazer com que o leitor seja direcionado com clareza para as obras citadas e referenciadas no texto.

Além dele, elaboramos uma apresentação pontual com os diferentes exemplos para que todos os interessados possam consultar: Normalização sem drama.

Em nosso site, na aba treinamentos há uma novidade: Agora é possível agendar horário com um bibliotecário para uma atividade específica sobre normalização de trabalhos acadêmicos, de acordo com as normas ABNT.

 

 


Normas para quem?

07/12/2015

norma

Norma Desmond (Gloria Swanson), personagem de O crepúsculo dos deuses

por Marina Macambyra

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) submeteu à consulta nacional o projeto de revisão da norma sobre referências bibliográficas (NBR 6023). Os profissionais que apresentaram sugestões foram convidados para uma reunião de análise do resultado da consulta, que aconteceu nos dias 26 e 27 de novembro.

Fiz diversas sugestões nos itens que tratam dos documentos audiovisuais e participei dos dois dias de reunião, esperando poder discutir minhas observações com a equipe responsável pela elaboração da norma. Infelizmente minhas expectativas foram um tanto frustradas, por dois motivos: não conseguimos chegar até lá, paramos 6 capítulos antes dos audiovisuais; não houve espaço para discussão do conteúdo, porque várias questões levantadas pelos presentes já haviam sido definidas pela equipe que elaborou a norma e não puderam ser mudadas.

As únicas sugestões de fato acatadas foram as referentes a aspectos formais do texto e inconsistências na norma, o que levou muitos dos presentes a se perguntarem por que, então, fazer uma consulta pública e convidar os participantes para uma reunião de dois dias.

Um dos pontos que suscitou muita polêmica foi uma nova regra que obriga grafar em itálico as expressões e abreviaturas latinas inet al., s.l. e s.n, por força da regra gramatical que exige destaque para palavras estrangeiras. Diante dos protestos generalizados de que essa determinação só vai complicar desnecessariamente a elaboração de referências pelo público em geral, o argumento apresentado foi uma solicitação da Academia Brasileira de Letras (?!) e um decreto que obrigaria a ABNT a adotar essa regra gramatical. A ponderação de uma colega de que esse tipo de regra se aplicaria a textos, não a referências bibliográficas, não surtiu qualquer efeito, porque a decisão já foi tomada. Um indício claro de que essa regra deverá acarretar muita confusão é o próprio projeto de norma em discussão, que traz exemplos com itálico e sem itálico. Sendo assim, em nome da coerência, não deveríamos também grafar em itálico as siglas CD e DVD? A questão petulante está, até o momento,  sem resposta.

Algumas sugestões que buscavam simplificar e tornar mais clara a norma para o usuário não puderam ser incorporadas por razões de ordem formal.  Muitas pessoas acreditam, por exemplo, ser desnecessária a indicação da URL de um documento online que tenha número DOI – o que rendeu longa e  acalorada discussão. Entretanto, como o DOI é considerado elemento complementar e a URL essencial, nada feito. Se o usuário quiser informar o DOI, tudo bem, mas vai precisar colocar a URL também.

Os colegas da área jurídica presentes na reunião estavam bastante descontentes com o projeto que conteria, segundo eles, erros sérios de terminologia. Mas dois dias de reunião não foram suficientes para chegar no capítulo dos documentos jurídicos, portanto não conheço os detalhes picantes.

O pessoal da Universidade Federal de São Carlos reuniu 40 profissionais de várias áreas para elaborar comentários e sugestões, como trabalho ligado à disciplina Normas Técnicas de Informação e Documentação. Vejam o resultado desse trabalho coletivo no link abaixo:

https://drive.google.com/file/d/0B87s6vpE6VLJeWpzaGxlWHZYbms/view

Também pretendo, num outro post, publicar meus próprios comentários sobre o capítulo dos audiovisuais, mas ainda estou aguardando inspiração para essa tarefa.

A NBR 6023  em vigor tem 24 páginas, e observo que muitos usuários têm dificuldades em consultá-la, inclusive pessoas com boa formação acadêmica. O projeto, que está sendo elaborado há 9 anos, já está com 50 páginas. Provavelmente ainda irá crescer bastante e nada indica, a julgar pelo clima dessa primeira reunião, que a norma vai ficar mais simples ou mais fácil de usar. E provavelmente ainda vai demorar um bom tempo para ser publicada, porque haverá mais uma consulta pública.

Na minha opinião, muito esforço e tempo estão sendo investidos num trabalho que talvez não seja aceito pela comunidade de usuários. Os dias que estamos vivendo pedem normas simples e de fácil compreensão, que pesquisadores e autores de textos consigam usar sem ficarem dependentes do auxílio dos bibliotecários. Normas que só bibliotecários conseguem entender correm o risco de virarem normas_desmonds esquecidas em seus castelos.

Aguardemos a nova consulta pública.

As opiniões contidas neste post são de responsabilidade da autora e não refletem, necessariamente, a posição da instituição.


Normalização de trabalhos acadêmicos

23/11/2015

Uma etapa obrigatória de boa parte dos cursos de graduação e pós-graduação é a elaboração de um trabalho escrito, que deve seguir regras de apresentação e formatação indicadas pela instituição. No caso da ECA, o trabalho deve ser feito segundo as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Essas normas têm por objetivo facilitar a comunicação científica, pois possibilitam a identificação (e a verificação da informação) de cada documento consultado e citado durante a feitura do trabalho.

No entanto, esta é uma tarefa meio árida, às vezes trabalhosa, não por outro motivo, é deixada para o final ou encarregada a terceiros, gente especializada nesse tipo de trabalho.

Hoje, porém, há ferramentas que prometem facilitar essa etapa da pesquisa científica.

Há softwares gratuitos, como o Monografando, que prometem “facilitar a vida de quem está fazendo o seu trabalho de conclusão de curso ou a sua monografia”.

Há os gerenciadores de referências, que criam de forma automática a lista de referências e as citações no momento da escrita do trabalho, no estilo de citação escolhido. São fáceis de usar e aqui na Biblioteca da ECA ainda oferecemos uma ajudinha, pois quem quiser aprender a usar o EndNote Basic, um dos mais populares desses programas, pode agendar um horário com a gente, por aqui http://www3.eca.usp.br/biblioteca/servicos/treinamentos

Quinn Dombrowski

Foto: Quinn Dombrowski, Flickr

Os bibliotecários estão atentos a essa necessidade dos pesquisadores. Em nosso blog, por exemplo, os posts que ensinam a fazer citações e referências de filmes e músicas estão entre os mais lidos.

O Sistema Integrado de Bibliotecas da USP preparou as Diretrizes para apresentação de dissertações e teses da USP, “com o objetivo de auxiliar a estruturação e organização dos textos”. São orientações que têm por base as normas da ABNT que tratam de trabalhos acadêmicos. O documento também está disponível para download segundo as normas da American Psychological Association (APA), International Organization for Standardization (ISO) e o estilo Vancouver.

A USP oferece acesso ao Target GEDWeb, que tem em seu acervo as normas da ABNT para trabalhos acadêmicos e várias outras normas do Brasil e do Mercosul. O acesso pode se dar nos computadores da USP ou remotamente via VPN.

Mas, se ainda precisar de ajuda, aqui na Biblioteca da ECA oferecemos, para a comunidade ecana, atendimento para esclarecimentos de dúvidas sobre elaboração de referências bibliográficas e citações. É só aparecer e procurar por um dos bibliotecários do serviço de atendimento.