Conservando DVDs

16/04/2018

A Biblioteca da ECA oferece aos seus usuários um acervo de filmes com cerca de 7000 títulos em DVD muito bem selecionados e organizados. A maior parte dessa coleção pode ser emprestada aos usuários USP, e os DVDs que não circulam podem ser vistos na Biblioteca, nas cabines individuais ou em pequenos grupos, nas salas de áudio e vídeo.

Temos filmes que dificilmente podem ser encontrados em outros locais, incluindo plataformas de streaming, por não serem títulos com apelo comercial. Alguns nem chegaram a ter distribuição comercial, ou estão esgotados há muito tempo.

DVDs, ao contrário do que muita gente imagina, são suportes frágeis. Riscam-se com muita facilidade, podem quebrar, são afetados pelo calor e pela umidade.

Quando as verbas para compra de material para as bibliotecas eram mais generosas, a Biblioteca procurava renovar constantemente o acervo, adquirindo vários exemplares dos filmes mais procurados e substituindo os que se estragavam. Atualmente, com pouco dinheiro, está cada vez mais difícil comprar DVDs. O crescimento do acervo se dá, sobretudo, por meio de doações.

Por todos esses motivos, é muito importante que todos colaborem com a conservação dessa coleção. Vejam aí algumas dicas para cuidar melhor de DVDs, tanto os da Biblioteca quanto os da sua coleção pessoal.

Principais causas de deterioração

Calor e umidade

Luz

Guardar de forma errada

Poeira, gordura, poluição

Embalagens inadequadas

Fungos

Manuseio incorreto

Má qualidade do material

Técnicas incorretas de limpeza

Medidas básicas para conservação

Idealmente, DVDs devem ser mantidos em ambiente com temperatura a 23º C e umidade relativa do ar a 50%, ambos estáveis. Mas, como é difícil manter esses padrões sem o uso de equipamentos de climatização, a alternativa é armazenar o acervo o mais longe possível de fontes de umidade e calor excessivo.

Nunca tocar na superfície de leitura. A oleosidade natural da pele deixa marcas no disco e contribui para a proliferação de fungos.

Não fazer anotações nem colar etiquetas. A cola e a tinta, com o passar do tempo, vão interferir na leitura do DVD. Etiquetas podem aderir no interior do equipamento de leitura e causar danos.

Manter sempre guardados em estojos plásticos próprios para DVDs, para evitar acúmulo de poeira na superfície de leitura. A poeira pode provocar riscos quando o disco é reproduzido. Pelo mesmo motivo, é necessário manter limpas as gavetas dos aparelhos de leitura. Os melhores estojos são aqueles com luvas, que usamos na Biblioteca, porque evitam que o miolo central do DVD se quebre.

Líquidos e alimentos devem ficar bem longe. Não carregue, na mesma mochila, seu sanduíche, sua garrafa de água e os DVDs  da Biblioteca.

Como limpar

Para remover poeira e marcas de dedos, use um tecido macio que não solte fiapos.

Se o DVD tiver depósitos gordurosos ou sujeiras grudadas, a limpeza pode ser feita com um algodão embebido em solução de álcool isopropílico + água destilada (50% de cada). Secar sem deixar resíduos e esperar alguns minutos para devolver o DVD à sua embalagem.

Nos dois métodos, a limpeza deve ser feita do meio para as bordas (nunca em círculos), em movimentos sempre muito suaves. É a insistência que limpa, não a força!

Nada é para sempre

Cuidados simples ajudam a aumentar a vida útil dos nossos DVDs, mas é bom lembrar que o uso e o tempo vão, inevitavelmente, agir sobre os materiais. E mesmo com todos os cuidados que possamos tomar, a obsolescência tecnológica já está chegando aos nossos acervos.

Algumas fontes de informação

Caring for CDs and DVDs

Clique para acessar o caring_for_cds_dvds.pdf

Care and Handling of CDs and DVDs: A Guide for Librarians and Archivists

https://www.clir.org/pubs/reports/pub121/

Caring for audio, video and data recording media

https://www.canada.ca/en/conservation-institute/services/care-objects/electronic-media/caring-audio-video-data-recording-media.html


Embalagens para conservação

08/12/2011

Elizabete Ortiz e Rosa Maria Lima, funcionárias da Biblioteca da ECA com formação em conservação de acervo, participaram da Oficina Como Fazer – Confecção de embalagens para acondicionamento de documentos , nos dias 11 e 12 de novembro.

Promovido pela  Associação de Arquivistas de São Paulo (ARQ-SP) e ministrado por Fernanda Brito, o curso mostrou, na prática, técnicas para confecionar alguns modelos de caixas e envelopes para conservação, com o objetivo de capacitar o profissional da área a criar suas próprias soluções de acondicionamente.

Segundo Elizabete, a prática e o conhecimento de técnicas de encadernação artesanal que Rosa  e ela já adquiriram em cursos anteriores e no exercício de suas atividades na Biblioteca foi fundamental para o seu bom desempenho no momento da execução dos modelos.

As técnicas aprendidas já estão sendo compartilhadas com os demais funcionários da Biblioteca que trabalham com preservação de documentos.

Rosa e Elizabete confeccionaram, entre outras embalagens, as seguintes caixas:

Caixa Solander

Confeccionada com papelão rígido próprio para encadernação, com revestimento interno em Tyvec e externo em Museum Barrier Paper, é uma caixa bastante resistente, própria para acondicionar manuscritos e coleções especiais. Foi criada pelo botânico sueco Daniel Carlsson Solander.

Caixa em cruz com abas

Usada para guarda de livros, suas abas laterais evitam a entrada de poeira e luz.  Feita com papel alcalino Archival Board, livre de ácidos e lignina, sem fibras recicladas nem branqueadores.

O curso foi pago com recursos da ProQual – Comissão do Programa Permanente de Qualidade de Produtividade da ECA USP, iniciativa de grande importância para a formação do corpo funcional da Universidade.


Conservação de fotografias

06/12/2010

Há uma passagem num livro de Mia Couto que diz muito sobre memórias e fotografias:

–  Agora, meu neto, me chegue aquele álbum.

Aponta um velho álbum de fotografias pousado na poeira do armário. Era ali que, às escondidas, ela vinha tirar vingança do tempo. Naquele livro a Avó visitava lembranças, doces  revivências.

Mas quando o álbum se abre em seu colo eu reparo, espantado, que não há fotografia nenhuma. As páginas de desbotada cartolina estão vazias. Ainda se notam as marcas onde, antes, estiveram coladas fotos.

Vá.  Sente aqui que eu lhe mostro.

Finjo que acompanho, cúmplice da mentira.

–  Está ver aqui seu pai tão novo, tão clarinho até parece mulato?

E vai repassando as folhas vazias, com aqueles seus dedos sem aptidão, a voz num fio como se não quisesse despertar os fotografados.

–  Aqui, veja bem, aqui está sua mãe. E olhe nesta, você, tão pequeninho! Vê como está bonita consigo no colo?

Me comovo, tal é a convicção que deitava em suas visões, a ponto de os meus dedos serem chamados a tocar o velho álbum. Mas Dulcineusa corrige-me.

–   Não passe a mão pelas fotos que se estragam. Elas são o contrário de nós: apagam-se quando recebem carícias.

COUTO, Mia. Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 49-50.

Nesta semana, de 6 a 11, de 2010 duas bibliotecárias da equipe participarão do Curso de Conservação de Acervos Fotográficos promovido pelo Instituto de Estudos Brasileiros da USP (IEB), com o especialista português Luís Pavão e equipe. Trata-se de uma excelente oportunidade de aperfeiçoamento profissional proporcionada pelo IEB e pelo DT-SIBi, que pagou a inscrição dos profissionais bibliotecários da USP.

Os conhecimentos adquiridos nesse curso devem ajudar a equipe da Biblioteca da ECA a preservar uma coleção de aproximadamente 2.700 fotografias em papel, recebidas em doação de fontes diversas. É um material raro e importante, que inclui álbuns pessoais doados por famílias, para o qual procuramos dar o melhor tratamento de conservação possível.

Parte do material já foi catalogada, higienizada e acondicionada em embalagens próprias para conservação, com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Nessa situação encontram-se:

Fotos da 2ª. Bienal de Arte de São Paulo, em preto e branco, que documentam as obras, a preparação da exposição e sua abertura. São 780 fotos já acondicionadas em envelopes de papel neutro, com proteção individual, e guardadas em arquivo de pastas suspensas.

Originais do livro História geral da arte no Brasil, editado por Walter Zanini: 260 fotos em preto e branco e 238 cromos, acondicionadas em álbuns elaborados com poliéster e cartão neutro.

Álbum de Fructuoso Vianna: fotos pessoais doadas pela família do compositor brasileiro. Já estão catalogadas e digitalizadas, e os trabalhos de higienização e acondicionamento adequado estão em andamento.

As demais fotografias da coleção ainda aguardam tratamento e conservação. Esse segmento do acervo inclui aproximadamente 600 fotografias em preto e branco produzidas pelos Arquivos Alinari que documentam obras de arte italianas; álbuns pessoais do maestro brasileiro Leon Kaniefsky; documentação de espetáculos teatrais, fotos ligadas à memória da ECA e muitas outras imagens interessantes.

Para quem se interessa pelo assunto, selecionamos alguns sites:

Associação dos Arquivistas de São Paulo – Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos

Arquivo do Estado de São Paulo – Como tratar coleções de fotografias

Biblioteca Nacional: Acondicionamento e guarda de acervos fotográficos

Lupa – empresa de Luís Pavão

Preservação de fotos digitais

A Biblioteca da ECA também oferece boa bibliografia sobre o assunto conservação e preservação de fotografias, incluindo o livro de Conservação de coleccções de fotografia, de Luís Pavão.

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A conservação transformadora

13/04/2010

Numa sala meio escondida da Biblioteca da ECA estão sendo produzidas as mais inesperadas transformações.  Entre máquinas de formas inusitadas, homens e mulheres armados com serras, bisturis, pincéis e agulhas devolvem à vida acadêmica livros rasgados e esquecidos, transformam matéria prima de nomes estranhos como percalux e tyvek em encadernações luxuosas e caixas elegantes.

Quase sem que ninguém perceba, desde 1994 a Oficina de Encadernação e Conservação da Biblioteca da ECA vem dando outra cara ao acervo de livros, revistas e partituras. Os funcionários mais antigos, quando passeiam entre as estantes, sabem disso. A mudança é visível e palpável. Os livros recuperados pela Oficina podem ser manuseados e lidos novamente, porque costuras bem feitas garantem sua completa abertura, enxertos e velaturas restituem ao papel sua integridade; não apenas capas novas, embora algumas delas sejam particularmente bonitas.

Carlos Roberto Alves, criador da Oficina e mestre inspirador de diversas turmas de dedicados aprendizes das artes da conservação de documentos e encadernação artesanal, é um adepto do “se quer bem feito, faça você mesmo” velha máxima à qual ele acrescenta: e ensine o que você sabe aos outros.  E foi assim, indignando-se com as barbaridades que algumas encadernadoras comerciais cometiam contra livros indefesos que o Carlos teve a ideia de dar destino melhor às verbas públicas. Por que não comprar equipamentos, aprender o trabalho e começar a cuidar do acervo com os recursos da própria Universidade? O projeto teve o apoio do Prof. Eduardo Peñuela Cañizal, então diretor da ECA e amigo dos livros, e deu certo.

Mas depois de um tempo lutando sozinho contra o eterno rasgar e despencar dos livros muito usados e nem sempre bem tratados, Carlos começou a dar cursos de encadernação artesanal na Oficina. Cursos gratuitos, abertos a qualquer interessado, durante o qual os alunos encadernam material da Biblioteca. No final, cada turma entrega à Biblioteca um bom lote de livros recuperados e bem encadernados. E cada aluno leva o conhecimento básico necessário para melhorar as condições dos acervos das bibliotecas onde trabalham ou mesmo, eventualmente, para entrar ou voltar para o mercado de trabalho.

No período de 1995 a 2006, a Oficina treinou 511 alunos; encadernou 5607 documentos; realizou intervenções de conservação em 2176 itens (dados de um relatório preparado em 2007).

Os funcionários da Biblioteca treinados pelos Carlos hoje estão capacitados a realizar desde intervenções simples para estabilizar os materiais até procedimentos complexos de restauro. Fazem envelopes, pastas e caixas para conservação, montam álbuns para fotografias, recuperam rasgos aplicando papel japonês, substituem grampos enferrujados por costuras, fazem enxertos com polpa celulósica e muito mais. E também desenvolvem competência técnica para avaliar a qualidade dos serviços das empresas encadernadoras contratadas pela Biblioteca.

Esse trabalho de formação de pessoal é tão ou mais importante do que as atividades de conservação propriamente dita. Na Oficina, funcionários que se sentiam desvalorizados tiveram a oportunidade de adquirir novos conhecimentos, dominar técnicas que pouca gente conhece e receber a admiração dos colegas pelo trabalho bem feito. Carlos tem o hábito, que já se tornou uma espécie de tradição na Biblioteca da ECA, de passar de mesa em mesa mostrando a todos o trabalho de seus alunos, mostrando a qualidade de cada detalhe e ressaltando os talentos de cada um.

A experiência da Oficina mostra que existem outros caminhos para a Universidade além da terceirização de serviços. A capacitação de pessoal, a descoberta de talentos, a inovação na criação de produtos específicos para a conservação de documentos – como a capa para discos de plástico polionda – está contribuindo para a implantação de uma cultura de conservação na Biblioteca da ECA. Aos poucos, todos ou quase todos os funcionários começam a entender a importância da conservação do acervo, e, em maior ou menor grau, a conhecer as técnicas e procedimentos mais adequados. Essa conquista não teria sido possível se a Biblioteca apenas contratasse serviços externos de encadernação, sem tomar em suas mãos o domínio dos saberes na área.

Carlos Roberto Alves está prestes a se aposentar, em busca de novas experiências, mas pretende continuar acompanhado os trabalhos do Grupo de Conservação do Sistema Integrado de Bibliotecas da USP. Deixa na ECA um pequeno grupo de sucessores, formados por ele e dispostos a continuar o trabalho da Oficina. Talvez no próximo essa equipe já tenha condições de retomar a rotina de cursos abertos à comunidade, com o mesmo entusiasmo do mestre.

Glossário:

Enxerto: processo de recuperação de um documento no qual houve perda de suporte (papel), realizado com poupa celulósica ou papel japonês na gramatura e cor do documento.

Percalux: material especial usado para revestir a capa de um livro, permite a gravação do nome pelo processo de douração e facilita a higienização.

Polpa celulósica: processo artesanal onde o papel é batido num liquidificador sem corte com água deionizada, coado com perlon ou filtro e espalhado em flocos para secagem. Depois deve ser macerado com cola CMC e aplicado no documento.

Tyvek: é um não-tecido composto 100 % de fibras de polietileno de alta densidade. Combina as melhores características e propriedades do papel, filme e tecido em um único produto (informação extraída do catálogo do fabricante).

Velatura: revestimento total de um documento com papel japonês, usando cola CMC. Dá maior sustentação ao documento fragilizado e permite boa leitura.

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