Publique e pereça

08/03/2021

Revistas predatórias, de novo! Já falamos delas aqui, mas o assunto tem se imposto ultimamente. Relatos de pesquisadores recebendo convite para submeter como artigo um trabalho qualquer apresentado anos atrás num evento científico, cobrança de taxa, insistência no e-mail caso a pessoa ignore, aprovação para publicação bem mais rápida do que costuma ser… tudo isso são indícios fortes de se tratar de uma revista predatória.

Elas surgem se aproveitando de algumas características do movimento de acesso aberto e dos sistemas de avaliação de autores baseados em número de publicações. São normalmente publicações internacionais que têm como critério de aceitação de artigos o valor pago pelos autores apenas.

A ameaça das revistas predatórias não irá desaparecer enquanto usarmos número de publicações como critério de qualidade acadêmica. A cultura do publique-ou-pereça e a dificuldade em identificar publicações ilegítimas criam a tempestade perfeita.

Estudo de 2018 desenvolvido por pesquisadores da UFRGS citado neste texto da Revista Pesquisa Fapesp aponta que a presença dessas revistas na comunidade científica brasileira é pequena, mas o dado preocupante é a presença dessas revistas no sistema Qualis da Capes. Outros estudos detectaram a presença delas em serviços ligados às grandes editoras acadêmicas como Scopus e ResearcherID, ou no Doaj.

Ganham dinheiro explorando a inexperiência de alguns, e a má-fé de outros.

De um lado, há pesquisadores mal informados, em geral em início de carreira, que são atraídos pela facilidade em publicar nesses títulos, sem necessariamente se dar conta de que suas práticas são antiéticas. De outro, há os mal-intencionados, que conhecem a natureza desses periódicos e buscam inflar artificialmente sua produção acadêmica, frequentemente para obter promoções na carreira.

O que foi dito acima pode dar a entender que é uma tarefa fácil separar revistas predatórias das sérias. Mas não é bem assim, tanto é que já há empresas cobrando para quem queira ter acesso a uma lista de revistas predatórias. Ou recursos como Think. Check. Submit., que busca ajudar a identificar revistas e editoras confiáveis. Entre os serviços gratuitos, existe a famosa lista do bibliotecário estadunidense Jeffrey Beall, que cunhou o termo ‘predatory journals’. Beall usou mais de 60 critérios para classificar tais publicações; também há uma lista Yale University Libray, ajudam para quem busca um título específico na lista, mas fica difícil avaliar mais de 60 critérios.

Este artigo tentou deixar a tarefa menos inglória, reduzindo a 13 os critérios a se considerar, de modo que pudessem ser usados por pesquisadores e universidades, entre as características apontadas: erros gramaticais e de ortografia são comuns nos sites, imagens usadas são normalmente de baixa qualidade e distorcidas, usam e-mails como @gmail, @yahoo e não e-mails institucionais, prometem publicação rápida, depois da submissão etc.

Além de usar os critérios acima, outras dicas para evitar esse tipo de publicação seriam:

  • buscar pelo título em bases de dados consolidadas (Web of Science, Scopus, Doaj etc.)
  • buscar em listas de títulos suspeitos
  • recursos como Think. Check. Submit
  • E claro, peça ajuda `a sua biblioteca

 

O título deste post foi inspirado nesse aqui; os trechos citados vieram daqui e daqui

Ferramentas para seleção de revistas

19/10/2020

A escolha de um periódico para publicar exige a participação ativa e consciente do autor em todo o processo da pesquisa. Para publicar, o pesquisador deve ser também um leitor, conhecer e acompanhar as melhores revistas de sua área, conectar-se a outros pesquisadores de sua área, situar-se, enfim, nesse mundo. Não existe um método simples e mágico para fazer essa escolha, mas algumas ferramentas podem ajudar um pouco.

Uma delas é a Master Journal List, da empresa Clarivate. Funciona assim: o autor insere numa tela o título e o resumo de seu artigo e a ferramenta mostra uma lista das publicações indexadas na base Web of Science que, provavelmente, seriam adequadas. 

https://mjl.clarivate.com/home

É interessante mas, na verdade,  não é tão diferente do procedimento clássico de fazer a busca pelo assunto do artigo numa base de dados e observar quais revistas publicam sobre. E não exime o autor de fazer a análise dos periódicos sugeridos e avaliar suas chances de ter um artigo aceito. Observem, ainda, que essa ferramenta abrange um determinado universo de revistas, aquelas que são indexadas nessa base específica.

A Agência USP de Gestão da Informação Acadêmica – AGUIA, indica algumas ferramentas e dá diversas dicas sobre o assunto seleção de revistas. Vejam:

https://www.aguia.usp.br/apoio-pesquisador/escrita-publicacao-cientifica/selecao-revistas-publicacao/

Este texto da plataforma Sci Writing – Escrita e Comunicação Científica, também tem sugestões:

Ver no Medium.com

E aqui, as sugestões da distribuidora de revistas científicas Dot.LIb:

 

https://dotlib.com/blog/4-ferramentas-que-ajudam-a-encontrar-o-periodico-adequado-para-a-publicacao-de-artigos-cientificos

Testem as várias ferramentas e escolham a que melhor atender suas expectativas. Provavelmente vocês terão de usar mais de uma. Mas não se esqueçam: nada substitui seu conhecimento da sua área de pesquisa, algo que pode demorar um pouco para ser adquirido.

Outros posts sobre o assunto que já publicamos aqui no blog:

Escolha de periódicos para publicar

Como submeter um artigo para publicação

Como acompanhar chamadas de artigos

 


Editoras e revistas predatórias

19/08/2019

Uma editora ou revista qualificada como predatória é aquela que adota critérios bastante frouxos para selecionar o que irá publicar, ou, talvez fosse melhor dizer, que visa principalmente a obtenção de um pagamento por parte do autor.

Surgem no bojo do movimento do Acesso Aberto (Open Access) –  que busca a construção de caminhos para que os avanços nos campos do conhecimento científico sejam comunicados à sociedade científica em geral – revestindo-se de um discurso em prol da democratização na comunicação do conhecimento científico, mas, de fato passando longe dos princípios éticos que devem marcar o campo da publicação científica.

Um trabalho publicado em uma revista ou editora predatória não corresponde a um trabalho de má qualidade necessariamente, entretanto, o mesmo é colocado em questão dado a falta de rigor da publicação. No caso de editoras de livros, muitas vezes nem mesmo a revisão do texto é feita.  Portanto, publicar nesses circuitos é um risco de depreciação do trabalho produzido.

No caso de teses e dissertações tem se tornado cada vez mais frequentes os relatos de autores que recebem um convite para publicá-las em formato de livro. São convites oferecendo a oportunidade de publicação e lançando a possibilidade de alcance internacional. Todavia,  a verdade que se revela é o fornecimento de uma edição digital do trabalho acadêmico com a capa da editora. A revisão fica sob responsabilidade do autor que, se quiser a obra impressa, terá que pagar para tanto. Fora as questões de cessão de direitos autorais para uma editora duvidosa, cabendo avaliar rigorosamente o que está implicado quando se opta por publicar nesses circuitos. É indispensável, também, verificar se a editora possui ISBN cadastrado. Para isso basta acessar o Portal do ISBN.

Quanto aos artigos científicos, a atuação predatória se torna perceptível pela falta de rigor para análise dos materiais que são publicados, assim como a rapidez com que são aceitos bastando o pagamento das taxas solicitadas. Para publicar em revistas é importante verificar se o site da publicação apresenta um campo de submissão claro e apropriado, um conselho editorial interinstitucional ou internacional com especialistas reconhecidos e informações de contato atualizadas, descrição do processo de revisão por pares, registro no ISSN, existência de DOI, informações sobre normalização bibliográfica, indicação das bases em que a revista é indexada. Para saber mais, leia o post Como avaliar uma revista para publicar.

No dia 29.08, das 14h às 18h, ocorrerá a palestra A escolha de periódicos para publicação de artigo científico  no Auditório Paulo Emílio Salles Gomes, na ECA. Para inscrever-se preencha esse formulário.

Imagem do filme O predador (2018)

 


Como avaliar uma revista para publicar

03/09/2018

Publicar em revistas científicas é atividade cada vez mais demandada aos pesquisadores.  Num cenário marcado pelo aumento exponencial da publicação de revistas, é importante que os autores observem alguns critérios no momento da seleção da publicação para a qual enviarão seu trabalho.

Essa seleção é inclusive indicada como ação a ser feita anteriormente à redação do texto para que sejam observados elementos como: quantidade de laudas, estrutura conforme tipo de texto (ensaio, artigo, relato de experiência, etc.), período entre a submissão e o aceite do trabalho, dentre outros elementos.

Veja a seguir alguns fatores a serem observados:

Caso queira salvar o pdf com essas orientações, clique aqui

 

No site do SIBi-USP há informações sobre o tema e também uma explicação sobre o Qualis CAPES,  que afere a qualidade de artigos por meio da análise da qualidade das revistas científicas.

Edanz Journal Selector possibilita que você insira termos relacionados ao seu texto. A partir disso, é apresentada uma lista de revistas científicas que podem ser interessantes para publicação. Apresenta fator de impacto, dentre outras informações.

A partir do Endnote, na opção Correspondência, é possível inserir título e resumo do artigo para verificar possíveis revistas para submissão.