Por que as coisas são assim?

29/04/2019

Bibliotecas são construídas ao longo do tempo, coletivamente, por várias gerações de funcionários e usuários. Sim, usuários também, porque uma biblioteca precisa sempre considerar as necessidades do público para o qual existe.

Quando olhamos para as estantes de uma biblioteca vemos livros doados ou  comprados, selecionados, catalogados e encadernados por pessoas que talvez já tenham morrido. E lidos por pessoas que nascerem muito tempo depois da chegada desses livros.

Isso tudo tem sua beleza, mas também coloca as bibliotecas diante de algumas questões complexas. Por exemplo, uma decisão tomada hoje, em função das condições práticas e demandas atuais, dentro de poucos anos poderá parecer errada ou inadequada. Sempre é possível mudar de ideia ou corrigir rumos,  mas nem sempre a equipe dispõe de tempo ou recursos para fazer mudanças de forma rápida.

Recentemente dois alunos do curso de Audiovisual pediram, em nossa caixa de sugestões, que os roteiros de filmes fiquem todos juntos na estante, como as peças de teatro. Fomos investigar a causa dessa aparente injustiça com o cinema e descobrimos que existe, de fato, na edição mais recente da tabela de classificação que usamos – a Classificação Decimal de Dewey – um número específico para roteiros.

Por que, então, não classificamos nesse número os nossos roteiros, para que fiquem todos juntos nas estantes? É difícil ter certeza. Essa divisão específica não existia na tabela quando começamos a organizar nosso acervo, na década de 1970. Os roteiros publicados em livros sempre ficaram junto com os demais livros sobre filmes de uma nacionalidade específica, ou seja, roteiros de filmes brasileiros na classificação 791.430981 – cinema brasileiro.

Por muitos anos essa situação não se apresentou como um problema. Hoje, porém, o acervo cresceu e temos quase dois corredores de estantes cheios de livros de cinema, o que faz os alunos percorrerem um bocado de prateleiras para encontrar todos os roteiros que gostariam de ler. Além disso, colocamos placas no início das estantes da classificação de teatro, indicando que temos “peças de teatro”, mas não colocamos placas de “roteiros” nas estantes de cinema,  evidenciando algo que é, de fato, uma diferença de tratamento.

E agora, o que fazer? Já dispomos de um número para roteiros e temos alunos pedindo essa separação. É possível mudar a organização do acervo? Sim, mas vai demorar. Será preciso levantar todos os roteiros publicados em livro do acervo, retirá-los de seus lugares, trocar etiquetas e números anotados nos carimbos, corrigir as informações nos registros do Dédalus e reorganizar as estantes para deixar algumas prateleiras livres para esse material. No momento, é uma uma pendência registrada na nossa lista de tarefas a realizar quando for possível.

Por enquanto, podemos localizar os roteiros do acervo buscando no Dédalus pelo termo”roteiro”, campo assunto. Sem esquecer que temos vários roteiros não publicados e cheios de anotações, que tratamos como manuscritos e mantemos na nossa Coleção Especial, longe das estantes comuns. Tratamos do assunto neste post.

 

E as peças de teatro, estão mesmo todas juntas nas estantes? Na verdade, não. As peças publicadas em livro estão nas estantes do acervo circulante misturadas aos livros de crítica teatral de cada país ou no acervo de folhetos, quando são fininhas; as peças não editadas nos armários de pastas suspensas, lá na sala das teses.

Armário dos folhetos e peças não editadas

 

Acontece que, como temos quantidades bem maiores de peças do que de roteiros, o teatro acabou sendo privilegiado na identificação das estantes, onde colocamos apenas os segmentos mais numerosos e visíveis de cada corredor.  Temos também peças publicadas em revistas de teatro, que não estão reunidas nem pelo Dédalus, porque ainda não terminamos de fazer o levantamento desse material.  O que temos, por enquanto, é uma lista parcial publicada aqui no blog que iremos, um dia, completar.

Observem que, em geral, o agrupamento nas estantes não resolve tudo. Será sempre necessária a busca no catálogo, onde conseguimos reunir categorias que não estão próximas fisicamente no acervo, usando termos que identificam o Tipo de material ou Gênero / forma.

Como esses, temos muitos outros casos que vamos resolvendo, aos poucos e com cuidado. A colaboração dos usuários é fundamental para que a gente identifique os problemas mais rapidamente. Portanto, avisem-nos sempre que encontrarem algo que possa ser melhorado na organização da Biblioteca da ECA. Suas sugestões vão sempre receber atenção da equipe e, se forem pertinentes e viáveis, o problema será solucionado assim que for possível.


Mais 10 coisas para não fazer durante a pós-graduação

11/02/2019

Este post foi inspirado no texto 10 coisas que você não deve fazer em sua tese ou dissertacao, publicado no Blog do Pós-Graduando, de 2013, que ainda circula muito por aí. Fizemos uma versão incluindo o conceito de biblioteca, que consideramos útil para os pesquisadores.

1. NÃO PROCASTINE SUA IDA À BIBLIOTECA

O momento ideal para visitar sua biblioteca, aprender a consultar os catálogos, descobrir os recursos disponíveis, conhecer os bibliotecários e saber como eles podem ajudá-lo é no primeiro mês de aulas, antes de começar a pesquisa. Se você deixar para conhecer a biblioteca só quando seu orientador reclamar das suas referências e leituras, vai sofrer desnecessariamente. Acredite, uma das frases que os bibliotecários mais escutam é “por que eu não passei por aqui antes?”.

2. NÃO SEJA UM ILUDIDO

A ideia de que está tudo online e as bibliotecas e arquivos físicos não são mais necessários é um equívoco. Provavelmente você vai precisar de livros que só saíram em papel e que ninguém fez a gentileza de digitalizar. Dependendo da sua área de estudo, talvez tenha que consultar enormes arquivos de documentos impressos sem qualquer organização, se deslocar até outras cidades (ou países) e inalar muito poeira de papel antigo.

foto: Marino González (Flickr)

3. NÃO ECONOMIZE NA BUSCA DE ARTIGOS

Antes de ler muitos artigos, você vai precisar encontrá-los. E artigos não caem do céu, embora muitos estejam na nuvem. Lembre-se de que sua universidade provavelmente assina revistas em formato eletrônico e bases de dados para busca de artigos em milhares de títulos de periódicos, e nem sempre você vai encontrar todos esses conteúdos procurando só no Google Acadêmico. Peça informações sobre isso na sua biblioteca, mesmo que você ache que já tem tudo o que precisa. Talvez você nem precise ir pessoalmente até a biblioteca, muitas delas atendem por e-mail, telefone, chat…

 

4. NÃO TENHA MEDO DA ABNT (NEM DAS NORMAS DA APA, VANCOUVER OU CHICAGO)

Normalização não é muito simples mesmo, mas não é nenhum bicho-de-sete-cabeças. Basta entender e ter um pouco de paciência. Na maioria das bibliotecas universitárias há profissionais que podem ajudá-lo a entender isso tudo, manuais explicativos etc. Bibliotecários sabem lidar bem com essas coisas e também podem apresentá-lo aos gerenciadores de referências (Mendeley, Endnote etc), que descomplicam bastante a vida. Muitas bibliotecas até oferecessem treinamentos e aulas sobre essas ferramentas.

E sim, há várias outras normas além da ABNT, veja qual a sua instituição adota.  Atenção ao submeter artigos para revistas, veja qual é a norma adotada pela publicação.

5. NÃO SUPONHA QUE UMA INFORMAÇÃO EXISTA

Mas como ninguém escreveu nada sobre isso? Não é possível que não tenha nada na internet… Como esta biblioteca não tem esse material? Vou ter que ir até Portugal para consultar um arquivo?

Pois é, muitos pesquisadores se desesperam ao descobrir que fontes de informação, publicações ou acervos organizados que “tinham de existir” não estão acessíveis, ou custam caro ou simplesmente não existem. Ao escolher um tema de pesquisa, é importante verificar quais são os recursos informacionais disponíveis e o que será necessário para ter acesso a eles.

6. NÃO CONFIE CEGAMENTE NO QUE VOCÊ NÃO LEU

As citações de citações podem ser armadilhas que escondem e perpetuam indefinidamente erros de interpretação. Não abuse dos apuds no seu texto, procure sempre encontrar a fonte original, mesmo que dê trabalho. Os bibliotecários também podem ajudar com isso .

7. NÃO ACREDITE EM TUDO QUE SEUS COLEGAS AFIRMAM

Sim, você fez a lista de referências e a página de rosto do jeitinho que seu colega que já é doutor fez. Mas está errado. Ah, seu orientador garantiu que a biblioteca tem todos esses livros. Mas não tem, nunca teve. Para ter informações precisas sobre normalização ou disponibilidade de materiais no acervo, o mais seguro é consultar o pessoal da biblioteca. E seus catálogos.

8. NÃO ATRASE A ENTREGA DO MATERIAL DA BIBLIOTECA

Cuidado! Muitas bibliotecas cobram multas pela entrega fora do prazo, mas muitas fazem pior: aplicam suspensões de acordo com o tempo de atraso e a quantidade de itens atrasados. Você corre o risco de ficar sem acesso aos empréstimos em momentos cruciais do seu trabalho. Informe-se sobre o regulamento da sua biblioteca: prazos, quantidades, possibilidade de renovação dos empréstimos, penalidades etc. Peça uma cópia do regulamento, veja se está disponível no site ou exposto no mural.

9 . NÃO DEIXE DE INTERAGIR COM SUA BIBLIOTECA

Se você não for à biblioteca de vez em quando, se não acessar seu site ou perfis nas mídias sociais, dificilmente vai descobrir que aquele acervo importante ou aquele serviço que você precisa está lá. Fale com os bibliotecários, pergunte, mande e-mail, siga no Twitter ou Facebook (se a biblioteca tiver), telefone, insista. Não tenha receio de incomodar, responder às suas perguntas é a parte mais importante do trabalho dos bibliotecários.

10. NÃO BRIGUE COM A SUA BIBLIOTECA

Mas brigue por ela. Se falta pessoal, espaço, acervo ou atenção, reclame e reivindique. Fale com a chefia, mande carta para o diretor. Ter uma boa biblioteca é um direito seu e uma obrigação da instituição de ensino.


O desafio da diversidade

05/11/2018

Comentários misóginos, piadas ofensivas aos homossexuais, uso de termos de origem racista e muitas outras atitudes que há alguns anos eram tidas como “brincadeira” não são mais aceitos no ambiente universitário. A presença de alunos militantes de diversos coletivos, ou simplesmente mais conscientes e politizados, trouxe para as salas de aula, de forma bastante explícita, conflitos que no passado eram silenciados.

Comissões de direitos humanos foram criadas na USP para ajudar a combater o assédio sexual, moral e o racismo na USP e recebem inúmeras denúncias.

E mais: negros e mulheres começaram a questionar a própria bibliografia dos cursos, ainda dominada por referências europeias escritas por autores homens e brancos.

A demanda já começa a chegar às bibliotecas, ainda que de forma relativamente tímida. Na Biblioteca da ECA já recebemos, mais de uma vez, questões como:

  • Como faço para localizar artigos acadêmicos sobre o tema aborto escritos por mulheres nos últimos 5 anos?
  • Dá para localizar obras de autores negros no acervo?

Nenhuma dessas questões pode ser respondida pelas ferramentas que utilizamos nas bibliotecas, porque as informações de raça ou gênero do autor não constam das bases de dados de artigos e nem dos catálogos das bibliotecas. Não é um problema local, restrito à USP, as bibliotecas trabalham com padrões internacionais de metadados e catalogação. É possível mudar? Sim, mas é algo que vai exigir tempo, organização e pressão das bibliotecas, editores, autores, comunidade acadêmica etc. Há outras formas de chegarmos a essa informação? Sim, mas para isso é fundamental que a demanda seja compreendida pelo profissional e as limitações do sistema entendidas pelo pesquisador. Sobretudo, as demandas precisam ser mais frequentes e até mais organizadas. Formuladas por grupos, por exemplo.

Há outras questões desse tipo no nosso universo. O perfil do acervo, por exemplo, que, nas bibliotecas universitárias é definido sobretudo pelos professores. E aqueles que mais indicam material mais influência têm.

Motivados por essas questões, apresentamos ao professor Ricardo Alexino Ferreira a proposta de chamar um debate sobre o tema, como atividade da XXI Semana do Livro e da Biblioteca. O professor abraçou imediatamente a ideia e ajudou a organizá-lo, convidando pesquisadores e especialistas em questões relacionadas à diversidade  étnico-social para falar do assunto.

A mesa-redonda O desafio da diversidade nas bibliotecas: questões metodológicas e culturais aconteceu no dia 24 de outubro, à noite, no auditório Lupe Cotrim da ECA. Resumindo as falas:

O professor Ricardo Alexino, Livre-docente pela Universidade de São Paulo, líder do Grupo de Pesquisa Midialogia Científica e Especializada, idealizador e apresentador do programa “Diversidade em Ciência” da Rádio USP apresentou sua visão de usuário assíduo de bibliotecas, pontuando as questões que mais o incomodam no sistema de classificação e perfil do acervo. O conhecimento como algo ligado ao prestígio em nossa sociedade e a predominância dos autores da Europa e Estados Unidos nos planos de ensino da USP foram alguns dos temas presentes na fala do professor.

Ivan Siqueira, Doutor e Mestre em Letras pela FFLCH/USP, especialista em Música e História da Arte pela Berklee College of Music e membro do Conselho Nacional de Educação (2015-2018), falou sobre o elitismo na origem das bibliotecas públicas e as estratégias para afastar delas a população negra e pobre – a forma de organização complicada foi uma delas. O prof. Ivan também abordou o projeto de reorganização das bibliotecas públicas da Holanda que, diante da queda vertiginosa na frequência, decidiram se reinventar, fizeram extensa pesquisa para identificar as demandas da população e hoje são referência no mundo todo – além de atração turística muito popular.

Biblioteca Pública de Amsterdam – foto de José Estorniolo Filho

Biblioteca Pública de Amsterdam – foto de José Estorniolo Filho

Gean Gonçalves, doutorando (ECA-PPGCom), mestre em Ciências da Comunicação também pela USP, membro do grupo de pesquisa Epistemologia do Diálogo Social  da ECA-USP e pesquisador das Narrativas Jornalísticas e do Ensino de Jornalismo, das Práticas de Respeito e Alteridade com a População LGBT, aos Estudos de Gênero e Sexualidade e a Teoria Queer na Comunicação Social, explicou em detalhes as questões da terminologia, sempre bastante importantes no universo das bibliotecas.

O debate, que teve a mediação da bibliotecária Marina Macambyra, foi importante para marcar o início de uma discussão que merece ser aprofundada e mobilizar o ambiente das bibliotecas da USP.

Nossas bibliotecas são, provavelmente, o maior espaço institucional de encontro das três categorias, depois da sala de aula. Nesse espaço podem ocorrer conflitos e tensões as mais diversas, mas também podem surgir mudanças e coisas boas. Bibliotecas não são estruturas descoladas da sociedade. São parte de um todo, estão sujeitas às mesmas forças que regem o país ou a cidade e não são neutras.

A Holanda tem bibliotecas públicas de excelência porque os profissionais que lá atuam se mobilizaram para torná-las melhores e porque poder público e a população em geral valorizam as bibliotecas.

Nossas bibliotecas, aqui na USP, podem e devem ser um espaço de convivência e diversidade, onde todos sintam-se acolhidos e representados. Num momento em que o ódio e o preconceito ameaçam diversos segmentos da população brasileira, é urgente que essa trincheira seja construída.

Assistam o vídeo neste link: https://youtu.be/AOBKpzhGW9Y

Vejam alguns documentos com informações importantes sobre o tema:

Bibliotec@rios negr@as: ação, pesquisa e atuação política
http://www.crb8.org.br/wp-content/uploads/2017/02/Livro-Bibliotecarios-negros.pdf

Repertório bibliográfico sobre a condição do negro no Brasil
http://bd.camara.gov.br/bd/handle/bdcamara/34741#

Manifesto das Bibliotecas Multiculturais
https://www.ifla.org/node/8976

Uma breve história da homofobia na Classificação Decimal de Dewey
https://medium.com/@mo.re.no/uma-breve-hist%C3%B3ria-da-homofobia-na-classifica%C3%A7%C3%A3o-decimal-de-dewey-e763fb5f77bc

Is your librarian racist?
https://www.citylab.com/equity/2018/01/is-your-librarian-racist/550085/

 

 


Entre livros : sugestões de leitura

09/12/2013

O fim do semestre letivo anuncia uma pausa nos estudos, breve intervalo na rotina diária das leituras diretamente relacionadas à formação acadêmica. Para aqueles que desejam aproveitar um pouco deste tempo se enveredando por novas e prazerosas leituras, a Biblioteca irá, em alguns posts, publicar listas com sugestões de obras do nosso acervo.

Para começar, apresentamos textos que têm como elemento central ela: a Biblioteca

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A biblioteca à noite.   Alberto Manguel

Nos quinze ensaios de ‘A biblioteca à noite’, os valores e sentidos representados no ato de colecionar livros são esmiuçados, pois é certo que ao longo da história as bibliotecas simbolizaram as aspirações e os pesadelos mais díspares da humanidade.

cristinacapaMemórias de uma guardadora de livros. Cristina Antunes

Cristina Antunes  nos fala de sua experiência de mais de duas décadas de trabalho na biblioteca de José Mindlin. Ela reflete sobre seu ofício e conta ao leitor os aprendizados daí desencadeados.

deweyDewey um gato entre livros.  Vicki Myron

A rotina da pacata cidade de Spencer, nos Estados Unidos, se transforma após um gato ser encontrado na biblioteca pública. A diretora da biblioteca, que achou o gatinho na caixa de devolução,  resolveu nos contar essa história real de um gato que fez da biblioteca e da cidade  sua casa bem como dos moradores os seus melhores amigos.

22858282O amor às bibliotecas.   Jean Marie Goulemot

O professor  Goulemot é um ávido leitor e  grande frequentador de bibliotecas. Nesta obra praticamente autobiográfica, que remonta às suas principais lembranças, ele relata suas andanças por bibliotecas da França, Espanha e Estados Unidos.

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A biblioteca esquecida de Hitler: os livros que moldaram a vida do Fürher.  Timothy W. Ryback

Sabe-se que as três bibliotecas particulares de Adolf Hitler, localizadas em Berlim, Munique e no refúgio de Obersalzberg,  nos Alpes bávaros, chegaram a abrigar mais de 16 mil volumes. O mais enigmático dos genocidas do século XX possuía coleções completas de Shakespeare, Goethe, Schiller, Kant e Fichte, encadernadas com ostensivo luxo e assinaladas com o característico ex-libris nacional-socialista. Livros sobre ocultismo e misticismo racial também despertavam a atenção do leitor assíduo, porém caótico, que se vangloriava de ler ao menos um livro por dia.

64137A biblioteca desaparecida: histórias da biblioteca de Alexandria. Luciano Canfora

Ptolomeu Filadelfo quer reunir todos os livros do mundo; o califa Omar pretende queimá-los todos, salvo o Corão. Entre esses dois sonhos, nasceu e foi destruída a monumental biblioteca de Alexandria, cidade que por mais de mil anos serviu de capital cultural do Ocidente.
Para narrar a história dessa imensa coleção de livros, o autor retoma uma antiga técnica dos bibliotecários de Ptolomeu: a montagem e a reescritura das fontes, fundidas numa prosa aparentemente romanceada, mas na realidade baseada, quase frase por frase, em textos antigos. A história da maior biblioteca do mundo se confunde assim com a história dos livros que acumulou e dos livros que a descreveram, como uma última crônica de um erudito bibliotecário de Alexandria.

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O nome da rosa. Umberto Eco

Durante a última semana de novembro de 1327, em um mosteiro franciscano italiano paira a suspeita de que os monges estejam cometendo heresias. O frei Guilherme de Baskerville é, então, enviado para investigar o caso, mas tem sua missão interrompida por excêntricos assassinatos. A narrativa se dá em meio aos mistérios que cercam o livro e a leitura no mosteiro.

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O bibliófilo aprendiz.   Rubens Borba de Moraes

Nas palavras do autor, aqui se tem a “prosa de um velho colecionador para ser lida por quem gosta de livros, mas pode também servir de pequeno guia aos que desejam formar uma coleção de obras raras, antigas ou modernas”.

525082O poder das bibliotecas: a memória dos livros no Ocidente. Direção de Marc Baratin e Christian Jacob

Mais que uma história das bibliotecas e do livro, ‘O Poder das Bibliotecas’ trata da leitura erudita, de sua história, de seu imaginário, mas também de seu quadro institucional e arquitetônico, de suas determinações materiais – o trabalho na biblioteca e o recurso aos livros, como depósito e instrumento de conhecimentos, como etapa na geração de novos livros e saberes; os efeitos cognitivos inerentes à acumulação dos livros, à sua materialidade, aos laços que tecem entre si e com o mundo.

665819A longa viagem da biblioteca dos reis.   Lilia Moritz Schwarcz

A narrativa de ‘A longa viagem da biblioteca dos reis’ começa a partir do terremoto que em 1755 destruiu Lisboa e com ela a célebre Real Biblioteca. A partir daí, percorre eventos fundamentais da história brasileira, sempre através dos livros, chegando ao processo de independência brasileiro – quando se pagou, e muito, pela Real Biblioteca.

Ficou interessado em algum livro? Consulte a localização e disponibilidade no Dedalus

Também vale a pena conferir o post em que apresentamos alguns filmes que trazem em seu enredo bibliotecas e bibliotecários


O silêncio

19/08/2013

antes de existir computador existia tevê
antes de existir tevê existia luz elétrica
antes de existir luz elétrica existia bicicleta
antes de existir bicicleta existia enciclopédia
antes de existir enciclopédia existia alfabeto
antes de existir alfabeto existia a voz
antes de existir a voz existia o silêncio
(Arnaldo Antunes. O silêncio)

Às 18h15, na Biblioteca da ECA, o celular do João Pedro tocou. Sempre muito ocupado, João tinha esquecido de colocar o aparelho no modo vibratório. Era o chefe, ele precisava atender. João Pedro atravessou a Biblioteca toda com seu vozeirão soando alta e claro, ainda que em frases curtas –  Sei, sei. Tá bom. É, tô aqui na USP –  até chegar na porta e falar à vontade.

Dez minutos depois, o filho da Luciana ligou. Filho, agora mamãe não pode. Agora não dá, Gustavo! Não dá, já disse, liga para o seu pai! Tenta a vovó, então, mesmo que eu saia daqui AGORA não vou chegar em tempo, filho. Tá bom. Beijo, te amo. Luciana começou sussurrando, mas acabou erguendo a voz em alguns momentos.

Por volta das 18h35, em meio às estantes,  a Tati encontrou duas amigas que não via há séculos. Os gritinhos de alegria foram inevitáveis. Que saudades, Ju! Há quanto tempo, Má. Alguns usuários olharam feio, a bibliotecária deu uma espiada por cima dos óculos e as meninas saíram aos saltinhos para conversar lá fora.

Um grupinho que estava estudando numa das mesas da sala de leitura – a salinha de estudos em grupo estava lotada – repentinamente se animou com uma descoberta engraçada. Começou uma série de gargalhadas mal abafadas às 18h45.

Logo em seguida, outro telefone tocou estrepitosamente o tema da Missão impossível, mas foi prontamente desligado por seu constrangido proprietário.

Ninguém fez por mal, ninguém queria deliberadamente incomodar os outros. Mas a Marcela, que passou a noite em claro terminando um texto, trabalhou o dia todo, só tinha uma hora para revisar o trabalho antes da aula e foi à Biblioteca em busca de sossego, teve sua concentração interrompida 5 vezes. O mesmo aconteceu com o André, que não conseguiu terminar a leitura de um artigo complexo, escrito num idioma que ele não domina.

Quase todas as reclamações que a Biblioteca da ECA recebe de seus usuários estão relacionadas ao barulho. As pessoas pedem que a Biblioteca tome providências.

Sim, nosso espaço não favorece a convivência entre os usuários que precisam de silêncio e os que, eventualmente, precisam conversar. Mas, no momento, é o espaço disponível. Mudanças poderão acontecer, mas não imediatamente.

Por esse motivo, vamos começar uma campanha pela tranquilidade dos nossos usuários. Vamos pedir a todos que se coloquem um pouco no lugar do outro e evitem:

  • conversar em voz alta
  • falar ao celular
  • deixar o celular tocar

Não é nada muito difícil, certo? Esses pequenos gestos podem favorecer muito a concentração de quem precisa de silêncio para estudar e espera encontrar isso na biblioteca.
Se todo mundo for solidário com seus colegas, os bibliotecários não vão precisar fazer psiu.

Um artigo interessante sobre o assunto:

Tragam de volta o shiiii das bibliotecárias:  http://morenobarros.com/2013/02/tragam-de-volta-o-shiiiiii-das-bibliotecarias-silencio/